Por: CUT/RS

No dia 2 de abril de 2025, o então presidente Donald Trump implementou um novo regime tarifário para a importação de bens e serviços, afetando um amplo espectro de países com os quais os Estados Unidos mantêm relações econômicas. A iniciativa foi anunciada em uma elaborada apresentação midiática, por ele denominada Liberation Day, ou "Dia da Libertação". O escopo da medida abrangeu tanto nações vizinhas, como México e Canadá, quanto aliados históricos, como a União Europeia, Austrália e Japão, além de rivais estratégicos notórios, como China e Rússia.
Ao elevar abrupta e unilateralmente as tarifas de importação, o presidente Donald Trump compromete um sistema de regras de comércio internacional que vem sendo construído desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ao adotar uma estratégia de constrangimento e de negociação bilateral, ele busca extrair vantagens econômicas, concessões políticas e alianças militares, com o objetivo de restringir as importações, repatriar a produção para o território norte-americano e eliminar o déficit da balança comercial. Visa também conter a ascensão dos países que compõem os BRICs, além de se opor ao multilateralismo e ao fortalecimento de modelos de desenvolvimento autônomos, inclusivos e sustentáveis. Em síntese, a ação de Trump revela um esforço para preservar a supremacia global dos Estados Unidos, estabelecendo relações de dependência e subordinação com o restante do mundo.
Esse comportamento agressivo e aparentemente errático do atual mandatário da Casa Branca faz parte de uma reação à crise do modelo capitalista, que se manifesta por meio de múltiplas fraturas. A concentração de riqueza atinge níveis históricos e acentuadamente desiguais, enquanto a disparidade social cresce de forma alarmante, evidenciando falhas nas políticas de redistribuição. Conflitos bélicos explodem em diferentes regiões, agravando instabilidades geopolíticas e gerando ondas de migração forçada. Ao mesmo tempo, eventos climáticos extremos — como secas prolongadas, enchentes devastadoras e incêndios florestais — revelam a intensificação da degradação ambiental e o esgotamento dos recursos naturais, em um alerta claro sobre os limites ecológicos do sistema. Nesse contexto, a reação dos EUA aparece como uma tentativa desesperada de preservar sua hegemonia diante da erosão do modelo econômico que sustentou sua posição privilegiada no século XX.
Inicialmente, o Brasil foi incluído na menor faixa de taxação, limitada a 10%. No entanto, logo após a realização da cúpula dos BRICs, ocorrida no Rio de Janeiro, o presidente Donald Trump anunciou — por meio de suas redes sociais — a elevação da tarifa para 50%, acompanhada de declarações que representaram uma clara intromissão em assuntos judiciais internos do país. Poucos dias depois, novamente pelas redes, Trump insinuou que o Brasil não era mais considerado amigo dos Estados Unidos, ignorando quase dois séculos de relações econômicas e diplomáticas marcadas pela cooperação e equilíbrio. Essa mudança abrupta revela um movimento estratégico em que o Brasil passa a ser tratado como alvo, tanto no esforço norte-americano de enfraquecer a articulação dos BRICs quanto na tentativa de restabelecer a sua hegemonia sobre a América do Sul. Além disso, os EUA possuem interesse em acessar vantajosamente os minerais críticos e terras raras e eliminar qualquer obstáculo para que as big-tecs possam atuam livremente no Brasil.
Embora tenha ocorrido uma mudança na faixa de taxação, excluindo 694 itens do patamar de 50%, os impactos dessa política sobre a economia brasileira serão significativos e podem comprometer o desempenho do PIB e provocar aumento no desemprego. Pode também acirrar a disputa política uma vez que a taxação comercial está associada com um posicionamento do presidente Trump pró clã Bolsonaro.
É verdade que a dependência comercial do Brasil em relação aos Estados Unidos já não é tão acentuada como em décadas anteriores, o que oferece certo grau de resiliência frente às oscilações externas. Ademais, o país apresenta um crescimento contínuo do Produto Interno Bruto nos últimos três anos, inflação sob controle, queda acentuada nas taxas de desemprego e um conjunto de políticas públicas voltadas à inclusão social e ao fortalecimento da renda das camadas mais vulneráveis da população. No cenário internacional, a atuação diplomática eficiente tem ampliado oportunidades comerciais e inserido o Brasil em espaços relevantes de decisão global. Trata-se de um momento estratégico em que o fortalecimento da soberania nacional e da posição brasileira no contexto internacional se torna fundamental, como resposta às pressões externas e à busca por uma ordem mundial mais equilibrada e plural.
Segundo dados de entidades da indústria, o decreto do presidente Trump pode ocasionar uma queda de R$ 1,5 bilhão no PIB gaúcho e a perda de 20 mil postos de trabalho. Setores como celulose e pasta de madeira, calçados, produtos de madeira, fumo, máquinas e materiais elétricos, pescado, equipamentos metálicos e componentes de borracha, entre outros serão duramente afetados.
Até o momento, o governador Eduardo Leite adotou um discurso oportunista, enfatizando que a elevação das tarifas é consequência do acirramento da polarização política interna e das provocações do presidente Lula. Essa postura, aparentemente neutra e isenta, não passa de uma tentativa de posicionar o seu próprio nome como alternativa da centro-direita na disputa eleitoral de 2026.
Para enfrentar esse cenário de afirmação da soberania, defesa da atividade econômica e dos empregos a CUT/RS tem destacado as seguintes propostas:
A exemplo da iniciativa exitosa que vigorou durante a calamidade que assolou o Rio Grande do Sul no ano passado, é necessário a implantação de um programa de proteção do emprego custeado pelo governo federal e empregadores com efetiva garantia de empregos como contrapartida.
O governo do Estado do Rio Grande do Sul precisa criar um espaço tripartite (governo, empresários e trabalhadores) para monitorar os impactos econômicos e sociais do tarifaço, reivindicamos medidas emergenciais de apoio às empresas e garantia de emprego.
Garantir que toda e qualquer empresa beneficiada por recursos públicos estabeleça processos de contratação junto aos Sindicatos de Trabalhadores, visando fortalecer a negociação coletiva entre as parte.
Não permitiremos que o enfrentamento do tarifaço sirva de pretexto para chantagens nas negociações coletivas nem utilizado para ferir direitos consagrados nas convenções coletivas e nos acordos coletivos de trabalho.
Estimular a produção nacional por meio das compras públicas e da política de conteúdo local.
Fortalecer o investimento público em infraestrutura social e produtiva (transporte, energia, habitação, saúde, educação) com encadeamentos na indústria nacional.
Fortalecer a transferência de tecnologia e o investimento público em pesquisa e desenvolvimento (P&D), com articulação entre universidades, centros tecnológicos e setor produtivo.
Buscar oportunidades de reposicionamento do Brasil em cadeias produtivas estratégicas no novo contexto internacional.
Aumentar o investimento para a implementação das NIB (Nova Industria Brasil) com foco em inovação, sustentabilidade e encadeamento produtivo interno.
Criar espaços permanentes de concertação e diálogo social entre governo, trabalhadores e empresários.
Estabelecer estratégias e metas para buscar novos mercados e estabelecer novas cooperações econômicas visando uma maior diversificação da nossa pauta de exportações em um contexto de instabilidade internacional.
Este momento de crise abre oportunidades históricas para alavancarmos um projeto de desenvolvimento inclusivo e sustentável, atualizado tecnologicamente e que coloque o Brasil em outro patamar. Esse desafio passa por logramos êxito nas negociações junto aos EUA e no enfrentamento de setores da nossa sociedade que insistem em nos mantermos subservientes e entreguistas de nossas riquezas e do futuro de novas gerações que esperam de nós altivez, criatividade e resistência.
Como preconiza as Centrais Sindicais em âmbito nacional “É hora de fortalecer e aprimorar um projeto de desenvolvimento com inclusão e justiça social — um projeto que inova nas escolhas estratégicas, reduz nossas vulnerabilidades, enfrenta a concorrência predatória e cria mecanismos de proteção frente à instabilidade externa. Esse modelo de desenvolvimento deve estar estruturado na geração e proteção de empregos, no combate à precarização do trabalho e no fortalecimento da capacidade de consumo das famílias por meio da valorização da renda do trabalho.”
Criado em: 11/08/2025 09:53