Por: Berlinda News
O CEPROL Sindicato alertou , durante o programa Berlinda Entrevista desta sexta-feira (23), para o aumento de casos de agressões, humilhações e ameaças contra professores na rede pública de São Leopoldo, praticados por alunos e pais que questionam o trabalho docente e invadem espaços de sala de aula.
Em declaração coletiva, a presidente Cristiane Mainardi, a vice Rosi Petersen e o tesoureiro Felipe Diego afirmaram que esse cenário tem levado a um “apagão do ensino público”, com recordes de afastamento por esgotamento mental e um desestímulo profundo em quem pensa em ingressar na carreira.
Profissionais humilhados em frente aos alunos
Segundo Cristiane Mainardi, “as professoras não aguentam mais”. Ela relata que pais costumam dizer “como devemos trabalhar” e reclamam em frente às crianças, minando a autoridade do docente: “Temos toda uma jornada profissional e acadêmica, e ainda ouvimos de pais como fazer nosso trabalho. Isso destrói a sala de aula.”
Cristiane aponta que a categoria envelhece e se aposenta, enquanto os jovens evitam seguir a carreira. O reflexo, alerta ela, é um “apagão” iminente da educação pública.
Desrespeito cotidiano que não vira manchete
Para Felipe Diego, casos recentes de violência contra docentes em São Paulo ou Caxias do Sul ganharam repercussão, mas “se formos falar com os colegas aqui, perceberemos que cenas de humilhação ocorrem diariamente, sem alarde”. Deisi destaca situações cotidianas de ambiente escolar que são interpretados de forma torpe pelos pais, que acabam culminando em situações de ameaça. “Você pede que o aluno estude, e o pai insinua que você o destratou e o chamou de lerdo. Você pede silêncio em aula, e isso se torna um “cala boca” no inconsciente de pais e alunos”, frisa.
Cristiane trouxe outro caso insólito: “um pai foi chamado à escola para tratar de variadas questões do filho no ambiente escolar, e como ele era da Brigada Militar, veio para a reunião fardado, de viatura e mais dois policiais, tendo uma postura intimidadora durante a reunião com a diretoria, porque na visão dele a escola tinha uma questão pessoal com seu filho”.
Felipe ainda conjectura: “Há também uma cultura de internet, de achar que todo influenciador digital ganha mais que o professor e não precisa estudar. O próprio aluno questiona a necessidade de estudo, já que um tiktoker pode faturar milhões de reais sem estudar, ao passo que o professor faz greve e pede melhores condições. Uma total inversão de valores e lógica”, apontou.
Reflexos de crises sociais nas salas de aula
Rosi Lopes Petersen lembra que a pandemia, os cortes na educação e as enchentes de maio de 2024 geraram um acúmulo de frustração em pais e alunos, que acabam descarregando nas escolas. “O luto pela perda de bens e a raiva da reconstrução chegam primeiro à escola, porque pais têm acesso maior — é onde eles cobram”, frisou.
Ela alerta para casos extremos, como pais que invadiram salas de planejamento à procura de planos de aula ou que ameaçam instalar escutas para monitorar professores. “Teve esse caso esdrúxulo, dos pais invadirem a sala de aula e revirar armários e gavetas, à procura do planejamento para averiguar se de fato estava sendo aplicado. E isso na frente de alunos e corpo docente”, contou.
Casos extremos e resposta jurídica
Cristiane citou uma tentativa de agressão recente em uma escola de São Leopoldo, onde um pai foi impedido por outras professoras, de ir às vias de fato no local. Alertou ainda que nesta semana, três denúncias de ameaça a professores chegaram ao sindicato. Todos eles encaminhados para Boletim de Ocorrência na Delegacia. “Desacatar funcionário público é crime. Vamos oferecer todo nosso aparato jurídico a quem se sentir coagido. Os professores podem nos procurar”, avisou.
Ela propõe criar, em parceria com a Secretaria de Educação, um núcleo de apoio para mapear incidentes e formular políticas de proteção ao docente.
Falta de engajamento na solução
Felipe reforça que, embora existam conselhos de classe e de pais, falta interesse em compor essas instâncias, mas sobra disponibilidade para criticar e agredir. “E isso apenas escancara o problema. Quer dizer o pai não tem interesse ou disponibilidade para propor mudanças pelos meios legais e organizados, mas sobra energia para incorrer a violência e outras ameaças”, ponderou.
Caminho para a paz e reforço estrutural
Rosi afirma que a escola acolhe todos, mas “há pais que também precisam de ajuda”. Cristiane defende redução de turmas, apoio à elaboração de planos de aula e mudanças concretas, não meras promessas políticas. “Porque todo ano eleitoral é a mesma coisa: classe política aponta que a Educação precisa mudar, mas não dizem exatamente o que. Nós temos diversas propostas e soluções, de pessoas que vivem o ambiente escolar no dia a dia”, desabafou.
Criado em: 23/05/2025 13:12